sexta-feira, setembro 15, 2006

Inconformismo

Duas atitudes que considero inconcebíveis para profissionais e estudantes da área de jornalismo:

Defender a revista "Veja"
Votar em Aécio Neves

domingo, setembro 10, 2006

Literatura


...O Rei de Havana

A impressão inicial que tive do livro “O Rei de Havana” do escritor cubano Pedro Juan Gutiérrez foi de uma história que parecia pecar por seu exagero. Excesso de sordidez e brutalidade logo na abertura ao narrar a morte repugnante da mãe e do irmão do personagem do anti-herói Reynaldo ou o Rei de Havana. Excesso de sexo, excesso de miséria, excesso de passagens que descreviam a decadência da capital cubana. Enfim, uma podridão só. Pedro Gutiérrez parecia aos poucos, querer destruir a imagem que fazia de Cuba. E eu fazia um esforço gigantesco para não querer acreditar naquilo tudo. Preferia ser defensora da tese de que apesar da falta de liberdade imposta pelo regime ditatorial de Fidel Castro, as pessoas ainda viviam com um mínimo de dignidade e todas as crianças e adolescentes se não já eram, estavam sendo alfabetizados. Mas não, o olhar observador do narrador conseguiu desmistificar essa crença.
O mesmo ocorreu com a história em si. Primeiro, achei simples demais o enfoque dado pela narrativa: um homem que utiliza de suas vantagens sexuais como forma de sobrevivência. Tudo isso no meio de muito álcool e muita sujeira, tanto física como moral. Bastante semelhante aos contos de um dos expoentes da geração beat: Charles Bukowski. Porém, o desenrolar da história revela um protagonista que representa toda a degradação moral, principalmente, e física dos cubanos, sendo ela, decorrente da miséria e desamparo social que essas pessoas são obrigadas a viver. Desprovido de qualquer oportunidade na vida, sem educação e conhecimentos de moral assistimos, aos poucos, a deterioração de Reynaldo que acaba culminando em dos finais mais tristes e chocantes de tudo aquilo que a literatura já produziu. Carregada de intertextualidade, a frase capaz de sintetizar melhor toda essa desagregação, seja ela de origem física ou moral é esta: “Não vinham do pó e ao pó regressariam. Não. Vinham da merda. E na merda continuariam”.
O talento de Pedro Juan Gutiérrez se revela não somente pelo caráter político com forte apelo de denúncia social que o livro mostra, mas também por uma linguagem descritiva e simples conseguida graças a sua habilidade como observador. Isso acaba tornando “O rei de havana” um livro de fácil alcance. E se alguém o classificar como pornográfico demais, que fique claro que isso cumpre uma função, além de representar uma característica própria dos escritores latinos.
Ao final, o livro ganha por não ser um relato feito a partir de visões deturpadas sejam elas de jornalistas, americanos ou autoridades cubanas, mas de alguém que convive com a realidade. Se exagerado ou não, é aquilo que mais se aproxima da realidade.

O Rei de Havana - escrito por Pedro Juan Gutiérrez
Companhia das Letras
224 páginas
Cuba/1998

Sobre o escritor

O escritor cubano Pedro Juan Guitérrez nasceu em Matanzas em 1950. Já vendeu sorvete, já vendeu jornal. Trabalhou de cortador de cana-de-açucar, de técnico em construção, de desenhista técnico, de instrutor de caiaque e natação e foi jornalista durante 26 anos. Ufa... Atualmente é pintor, escultor e escritor. Escreveu "Trilogia suja de Havana" (1998) considerado seu melhor livro, "Animal tropical" (2000), "O insaciável homem-aranha" (2002), "Carne de cão" (2003), "Nosso GG em Havana" (2004) e o último de 2005, "O ninho da serpente: Memórias do filho do sorveteiro".

segunda-feira, setembro 04, 2006

Eu sei falar de política também

...Considerações

Nilmário Miranda, disse aos estudantes de Comunicação Social da Puc Minas (universidade em que estudo), em seminário realizado no segundo semestre do ano passado que a culpa do mensalão residia no fato do presidente Lula, ter sido obrigado a fazer alianças com partidos de ideologias diferentes daquelas do Partido dos Trabalhadores para assim, conseguir aprovação das propostas no congresso. Nilmário, propunha mudança criticando a tradição personalista que impera no país. Os votos são concedidos por simpatia a determinado candidato apenas, e não por partilharem da mesma ideologia de um partido. Segundo o ex-Secretário dos Direitos Humanos e candidato ao governo de Minas, esse fator é o principal causador da prostituição dos partidos políticos. Ele também apresentava argumentos que defediam a reforma política.
Porém, Nilmário parece ter se esquecido dessas suas palavras. Hoje, ele apoia e é apoiado pelo ex-governador de Minas Gerais e candidato ao senado pelo PMDB, Newton Cardoso. Seria necessário explicar a minha indiganção?

Que fique claro, que eu não me encaixo dentro dos 80% de aprovação do candidato Aécio Neves.

sábado, setembro 02, 2006

...Free Zone


Leila, Rebeca e Hanna em uma das cenas mais bonitas do filme: o momento de trégua

Uma judia (Hana Laszlo). Uma palestina (Hiam Abbass). Uma americana (Natalie Portman). Essas três mulheres cumprem em “Free Zone” uma função simbólica. Suas atitudes representam as atitudes de cada um dos países envolvidos no conflito no Oriente Médio. Sem demonstrar qualquer fanatismo religioso, o israelense Amos Gitai (Alila), faz um filme limpo e neutro, no qual não defende nenhum lado. O diretor opta por apenas mostrar, através dessas três personagens femininas o papel que Israel, Palestina e os Estados Unidos tem na tensão no Oriente Médio.
Hanna é uma taxista judia, é alemã, mas vive em Israel. Decidida a cobrar uma dívida de seu marido ela cruza a fronteira e segue para a Free Zone. Situada na Jordânia, a Free Zone, é uma espécie de zona franca, onde israelenses, sírios, palestinos e egípcios circulam livremente a fim de estabelecer suas relações comerciais. A mulher leva consigo, Rebeca, uma americana um pouco confusa, que acabara de romper um relacionamento. Lá, as duas encontram com a palestina Leila, a mulher do americano que deve dinheiro ao marido de Hanna.

A partir desse encontro, as características de cada um dos povos envolvidos são reveladas. Hanna, como um bom judeu sabe bem como cobrar uma dívida. Insistente e ameaçadora como qualquer israelense, ela não dá trégua a ponderada palestina que sabe dar uma boa desculpa para não paga-la. Situação bastante semelhante à relação conflituosa estabelecida entre árabes e judeus causada pela disputa pela região da palestina. Enquanto, as duas simbolizam cada um dos dois envolvidos diretos do conflito, Rebeca, representa o papel dos americanos. Apesar de não ser judia, pois apenas seu pai é judeu (sim, os judeus são matriarcais) ela se sensibiliza à causa judaica. Talvez, Gitai tenha querido mostrar o papel dos americanos ao colocar Rebeca seguindo (e apoiando) Hanna e em alguns momentos tentando interferir na situação.
Sob uma outra ótica, a personagem Rebeca, ao seguir Hanna e acompanhar o pequeno conflito entre a judia e a palestina, pode cumprir uma relação íntima com aquele que o assiste. Ela representa qualquer um de nós, espectadores do conflito. As duas mulheres parecem defender suas condições a americana que as ouve atentamente.
Apesar do filme tentar representar uma postura mais otimista, pelo próprio lugar onde a história se desenvolve, e em alguns momentos pela discussão tender para o acordo, como os dois povos já ensaiaram em raríssimas vezes, isso não passa de uma mera ilusão. O filme poderia muito bem ter terminado no momento em que as três seguem juntas -e cantando- no mesmo carro em busca do tal americano.

Porém, Amos Gitai preferiu ser realista e termina-lo um momento depois desse prenúncio de paz. Leila e Hanna iniciam uma discussão interminável dentro do veículo, enquanto Rebeca as abandona, evidenciando mais uma vez a ambigüidade da personagem. A fuga pode ser uma estratégia de manutenção da guerra: interesse dos americanos, ou representa a fadiga que pelo menos meio mundo sente em relação ao conflito. Cabe ao espectador julgar. É um filme fatalista, que mostra que apesar de existir momentos de brecha, os conflitos, são intermináveis.

Free Zone - Dirigido por Amos Gitai
Com
Hana Laszlo, Hiam Abbass, Natalie Portman, Carmem Maura
Duração 90 min
Israel/ França/ Espanha/ Bélgica 2005

 
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