domingo, agosto 19, 2007

. todos os homens do presidente

O filme “Todos os homens do presidente” (Alan J. Pakula, EUA, 1976) retrata um dos acontecimentos mais marcantes da imprensa mundial: o escândalo de Watergate. Tudo começou, no ano de 1972, na cidade de Washington. Um grupo de cinco homens, a princípio, considerados ladrões, invade a sede do partido dos Democratas, no edifício Watergate. Dois jornalistas do “Washington Post”, Bob Woodward, vivido por Robert Redford, e Carl Bernstein, interpretado pelo brilhante Dustin Hoffman, são designados para cobrir o acontecido. O caso, que no início parecia um assalto sem maiores conseqüências, toma uma grande dimensão quando Woodward, ao chegar em casa, recebe um bilhete anônimo dando algumas coordenadas para que um possível contato fosse estabelecido. O jornalista, bastante interessado no assunto, procura a figura misteriosa, conhecida até os dias de hoje, sob a alcunha de “Garganta Profunda”, e o filme transforma-se em um processo de investigação, retratando a trajetória vivida pelos dois repórteres. Tem-se aí um exemplo de jornalismo investigativo, no qual algumas posturas são louváveis e outras, no mínimo, questionáveis e que transformam o filme, adaptado de um livro escrito anos mais tarde pelos próprios jornalistas, em uma brilhante aula para aqueles que se interessam em jornalismo, política e ética.
Depois de um árduo processo de pesquisa que durou pouco mais de dois anos, os dois repórteres conseguem provar e revelam à sociedade americana o que realmente havia ocorrido: os arrombadores estavam a serviço do Partido Republicano, tentando colher informações confidenciais da campanha de George McGovern, do partido dos Democratas.
A princípio, a direção do jornal, sintetizada no filme pela figura de Been Bradlee (Jason Robards), diretor-geral do Post na época, demonstra-se reticente e faz com que outras matérias fossem priorizadas na edição do jornal, que não àquela ligada a Watergate. Quantas vezes em uma reunião para o fechamento do jornal, Bradlee determinou que o assunto não ganhasse destaque nas páginas principais do veículo?! “Será que os outros jornais, que pararam de se preocupar com o caso, estão, todos errados e apenas nós estamos certos?” Era essa a pergunta que ele se fazia, tendo em vista o fato do restante da mídia norte-americana ignorar o acontecido e não dar a devida importância ao tema. O famoso “The New York Times”, praticamente, não disse nada a respeito do tema, tratando o assunto como um simples roubo. Essa postura talvez encontre justificativa no receio de, mais tarde, se mostrarem equivocados e perderem a credibilidade perante o público. O descaso da mídia em relação ao fato acabou favorecendo o presidente Nixon, que nas eleições de 1972, foi reeleito. Tal postura demonstra um outro tema recorrente em “Todos os homens do presidente”: o agendamento da mídia em retratar, ou não retratar os fatos pode influenciar o público.
O empenho demonstrado, tanto por Bernstein como por Woodward, em tentar desvendar o que realmente aconteceu pode servir como modelo para qualquer aspirante a jornalista que deseja um dia se aventurar pelo sedutor quebra-cabeça proposto pelo jornalismo investigativo.
Outro exemplo na imprensa mundial, no caso novamente a americana, que se compara ao anseio dos repórteres do Post é o dos jornalistas do San Francisco Chronicle, Robert Graysmith e Paul Avery. Os dois, com a ajuda do detetive David Toschi, tentam desvendar o mistério do serial killer, apelidado de zodíaco, que no final da década de 70, aterrorizava a Califórnia, enviando cartas anônimas para a imprensa local, dando detalhes do assassinato de três pessoas. Apesar da investigação minuciosa e por um bom jornalismo investigativo bem praticado, utilizando muita dedução e indução, nenhum deles conseguiu desvendar a identidade do assassino, que permanece como um dos maiores mistérios dos EUA. A história foi transformada em filme, pelo diretor David Fincher, em Zodiac.
Voltando ao caso Watergate, algumas atitudes dos dois repórteres se mostram um pouco questionáveis, a principal delas talvez seja a forma utilizada por eles para fazer a fonte falar: visita à casa dos envolvidos, tentativa de aproximação, psicologia infantil, atitudes que se comparam àquelas utilizadas por Truman Capote ao investigar o assassinato ocorrido no Kansas. O “blefe” também foi uma das ações recorridas pelos repórteres do Post. Nas cenas finais do filme, um dos dois jornalistas, liga para uma das pessoas envolvidas e, para instigá-la a falar, demonstra já saber de tudo.
Uma atitude digna de controvérsia no meio jornalístico, é a não citação das fontes. Como forma de proteger os envolvidos na pesquisa, tanto Bernstein quanto Woodward se negam a citar seus nomes. Tal atitude é capaz de colocar em cheque a veracidade daquilo que é relatado por eles. Na imprensa atual, é defendida a idéia de que as fontes devem ser citadas, como forma de comprovar aquilo que foi divulgado. "Se Watergate ocorresse agora, os jornalistas seriam presos por não revelarem suas fontes e não poderiam publicar a história", defende o colunista da revista "Newsweek", Jonathan Alter.
Ao final da investigação, quando Bernstein e Woodward conseguem provar definitivamente o envolvimento do partido dos Republicanos, Bradlee se rende e concede todo o espaço, no Post, ao assunto. A investigação culmina com a renúncia de Richard Nixon ao governo, no dia 09 de agosto de 1976.

Além do exemplo concreto e verídico de jornalismo investigativo e da influência da mídia, o filme também traz à tona uma outra questão importante: os artifícios utilizados por um partido para derrotar o adversário. Os artifícios utilizados ficam evidentes quando os dois jornalistas conversam com um dos “cabeças” da campanha de Nixon e responsável pela tentativa de manchar os Democratas, o método se assemelha com aquele utilizado, atualmente, até mesmo pela política nacional. Pode servir também como um espelho do que está à espera daqueles que almejam enfrentar a rotina a dos veículos de comunicação diária.




 
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