domingo, maio 31, 2009

Sinédoque, Nova York

Sinédoque, Nova York é um filme extremamente denso, bastante angustiante e, seguramente, leva alguns dias para que o espectador comece digerí-lo, tamanha a complexidade dos questionamentos abordados. Da mesma forma como os outros roteiros que consagraram Charlie Kaufman, Sinédoque, Nova York representa um mergulho profundo na psíque de um personagem - mais uma vez podemos encará-lo como o alter-ego do diretor-roteirista - deslocado do mundo que o cerca.
Se realizado por diretores como Michel Gondry (Brilho Eterno de uma mente sem lembranças) ou Spike Jonze (Adaptação e Eu quero ser Jonh Malkovich) Sinédoque, Nova York teria uma abordagem um pouco mais sútil do que a explorada por Kaufman, em alguns momentos bastante deprimente. Certamente, procurariam equilibrar os problemas existencias do personagem central com uma estética mais ousada, o que o roteirista, na sua estreia como diretor, não o fez. Entretanto, talvez, eles não conseguissem captar toda a frustração e todo o questionamento em relação a temas como os relacionamentos familiares, relacionamentos amorosos e a morte de forma tão intensa e complexa como fez Kaufman. Se por um lado a intimidade do diretor com o roteiro se destaca como a grande virtude, por um outro, pode não funcionar, fazendo com que o filme se torne pesado demais. Falta à Kaufman a leveza com que Woody Allen aborda temáticas semelhantes.


Se em Adaptação, tínhamos Charlie Kaufmam (interpretado por Nicolas Cage) lutando contra o bloqueio criativo, sua baixa estima e suas frustrações sexuais, em Sinédoque, Nova York, temos Caden Cotard (Philip Seymour-Hoffman), um roteirista de teatro, lutando para escrever uma peça que seja a representação de sua vida e das pessoas que o cercam. É aí que chegamos ao significado de Sinédoque. Segundo o dicionário Houaiss, sinédoque é uma metonímia ("figura retórica que consiste no uso de uma palavra fora do seu contexto semântico normal, por ter uma significação que tenha relação objetiva, de contiguidade, material ou conceitual, com o conteúdo ou o referente ocasionalmente pensado"). Os exemplos mais comuns são a substituição da parte pelo todo, o gênero pela espécie e o singular pelo plural. No caso, o protagonista toma a representação da vida pela própria vida.
Caden, em certos momentos, acredita que essa peça dará conta de trazer todas as respostas para seus questionamentos, o que, é óbvio, não vai acontecer. Muito pelo contrário, há um aumento progressivo da toda a inquietude frente às questões existenciais e, conseqüentemente, de toda a frutração por não conseguir abarcar todo o seu universo dentro daquela peça teatro em construção. O projeto, magalomaníaco, se transforma em algo cada vez mais ousado e se arrasta pelos 20 anos seguintes (alguém se lembrou de Axl Rose e seu Chinese Democracy?). Atores que interpretavam pessoas reais, ganham suas próprias represetações em um ciclo infinito. A internalização é tamanha, que questionamentos iniciais dão origem a novos questionamentos ,e somos conduzidos a um labirinto infinito recheado de questões que - óbvio - nunca serão solucionadas. Assim, aumenta a cada dia a distância entre o que Caden deseja e como, de fato, as coisas são. Algo como aquele dito comum no qual a felicidade é proporcional a ignorância. Quanto mais os questionamentos aumentam, menos Caden conseguia se relacionar com as pessoas à sua volta, e mais frutrado e entendiado perante à realidade ele se tornava.
Se para alguns "esse mergulho nas questões existenciais" funcionou de forma brilhante, Sinédoque, Nova, York me deixou bastante incomodada. Não que eu seja daquelas pessoas que não gostem de questionar. Muito pelo contrário, em alguns momentos eu me identificava bastante com Caden Cotard. O grande problema a meu ver foi o pessimismo carrancudo de Kaufman, que produziu uma história pesada demais. Quando as frustrações são tratadas com ironia e humor, os problemas ficam mais visíveis. É por isso que Woody Allen é foda!

sexta-feira, maio 29, 2009

Sinédoque, Nova York

Finalmente o primeiro filme dirigido pelo roteirista (de tantos filmes bacaninhas) Charles Kaufman entre em cartaz nas salas de cinema de Belo Horizonte.
Fiquei bastante feliz com a estreia já que nas últimas semanas nenhum dos filmes exibidos nos cinemas de Belo Horizonte nas últimas semanas havia me despertado atenção a ponto de me fazer sair do conforto de minha casa.

Sinédoque, Nova York está em cartaz no Ponteio Lar Shopping e no Usina Unibanco de Cinema.


terça-feira, maio 19, 2009

Pílulas cinematográficas

Para quem quer fugir da programação das salas de cinema dos shoppins centers de Belo Horizonte recheadas de blockbusters confira abaixo algumas sugestões de mostras de cinema bastante cabeça e o (melhor) muito baratas para o mês de maio

Corre que ainda dá tempo

Mostra no Baile
A mostra de cinema da Casa do Baile exibe durante o mês de maio longas do diretor David Lynch. No próximo sábado, dia 23 de maio, será exibido aquele que talvez seja o filme mais conhecido do diretor, Cidade dos Sonhos; já no dia 30, encerrando a programação do mês, será a vez de História Real.

Relação
O Usina Unibanco de Cinema exibe até a próxima quinta-feira, dia 21, a programação Relação do porjeto Curta Petrobrás à seis. Os curtas exibidos são“A Vida ao Lado”, de Gustavo Galvão, “Páginas de Menina”, de Monica Palazzo e “Beijo de Sal”, de Fellipe Gamarano.

Espaço para o cinema digital no Cineclube Savassi
A partir desta sexta-feira, dia 22, o Cineclube Savassi apresneta a 1ª Mostra Usina de Cinema Digital. Nela serão exibidos filmes lançados no ano passado pela distribuidora mineira Usina Digital. Entre as obras, estão longas não só conhecidos pelo público mineiro, mas reconhecidos pela crítica de todo o país. Fronteira, de Rafael Conde, Andarilho, de Cao Guimarães; e 5 Frações de Uma Quase História são alguns dos destaques da mostra, que vai até o dia 28 deste mês.

quarta-feira, maio 13, 2009

Up! Altas Aventuras



Essa é animação da Pixar que abriu em grande estilo o Festival de Cannes hoje. Qualquer semelhança com a história do "padre voador" que subiu aos céus pendurados por balões em uma festa no Paraná é mera coicidência. Com muito bom humor o diretor Peter Docter negou que o filme tenha se inspirado no padre Adelir di Carli: Já estávamos fazendo o filme há três anos quando soubemos da notícia. Mas estivemos em Roraima escalando montanhas perto do rio Tacuí, para conhecer bem a floresta que mostramos no filme, justificou.
(Informações retiradas do UOL)

Up! Altas Aventuras contas a história de um viúvo e velho solitário vendedor de balões que para escapar de ser levado a um asilo resolve fugir amarrando centenas de balões coloridos no telhado, fazendo assim sua casa voar pelos ares.

Cannes

A 62ª Edição do Festival de Cannes tem início hoje e vai até o dia 24 deste mês.
Fiquei ligado!

domingo, maio 10, 2009

Wolverine

X-men Origins: Wolverine não é filme ruim. Vale como uma boa diversão, especialmente em uma noite de sábado em que o que você mais deseja é esvaziar sua cabeça e se esquecer da semana atribulada pela qual passou.


Entretanto, aprofundando um pouco mais a análise, assim como todos os outros filmes de heróis, Wolverine não consegue ir além e se deslocar um pouco daquele lugar-comum de que todo herói é motivado por um forte sentimento de vingança. Além disso, vingar-se deseu inimigo é um ato totalmente justificado, já que você foi enganado e tiraram de você de tudo o que de maior valor você tinha.
A mesma análise em que fiz para filmes que retratam a ameaça do fim da humanidade, vale para os filmes de heróis. Além de apresentarem como pressuposto um mote bastante raso como a vingança pela vingança, há um certo abuso de cenas de ação. Há uma maior preocupação com a efeitos especiais de lutas, explosões, em detrimento de todo o conflito psicológico do justiceiro que poderia ser muito bem explorado. Grande parte desses quadrinhos, sobretudo aqueles que tem o selo da Marvel, a qual Wolverine pertence, sempre primaram muito pela carga psicológica desses personagens, bastante controversos.
Nada contra o motor da história seja a vingança, que fique claro isso. O problema é a forma como a vingança é abordada, sempre buscando justificativa para os atos dos justiceiros. Não seria mias inteligente abordar todo complexidade psicológica que advêm como consequencia desse desejo de justiça? O Batman, nesse ponto, é ainda a meu ver o único filme desse universo que consegue sair do lugar comum.
Fico com a seguinte dúvida. É mais atrativo financeiramente fazer um filme descerebrado como Wolverine por que o público ainda tem preguiça de pensar?

**

Notas de bastidores:

A direção de Wolverine foi oferecida a Zack Snyder, aquele que dirigiu 300 e depois se redimiu como Watchmen. Snyder recusou porque desejava fazer um filme com censura. Não dirigiu, porque Hugh Jackman, que também é produtor de Wolverine, queria uma história própia para maiores de 13 anos. Deu para entender agora, né?
Só que o grande problema é que o público alvo de Wolverine, aquele que tinha o hábito de acompanhar o quadrinho já passou dos 30.

 
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Estrela Torta by Juliana Semedo is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Compartilhamento pela mesma Licença 2.5 Brasil License
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