quinta-feira, junho 29, 2006

Ray Cash e Johnny Charles

Ray Charles e Johnny Cash não tiveram nada em comum. Certo? Mais ou menos.
Embora ambos tivessem uma inclinação para a música gospel, seus estilos musicais nada pareciam. O primeiro, negro e cego, nascido em Albany, foi um pianista e cantor de soul, considerado um dos maiores gênios da música negra. Já Johnny Cash, nascido no Arkansas em 1932, dois anos após Ray Charles, junto com Bob Dylan foi um dos expoentes do folk e do country norte-americano.
Os filmes “Ray” (Estados Unidos, 2004) e “Walk The line – Johnny and June” (Estados Unidos, 2004),porém, provam que há algo de muito semelhante, pelo menos naquilo que compete à história de vida de cada um. As duas filmagens biográficas enfocam a infância pobre e conturbada de ambos, marcada pela morte de seus irmãos e o trauma desenvolvido a partir da perda. No caso de Ray Charles (interpretado pelo ator Jamie Foxx) o trauma verifica-se pelo medo de água, que provocou no precursor do ritmo gospel na música negra, constantes alucinações.
Apresentados a drogas por artistas do meio, logo no início de suas carreiras, ambos se entregaram ao vício e quase foram destruídos por ele. Os dois tiveram problemas com a polícia em decorrência do uso. Ray Charles foi pego duas vezes e só conseguiu livrar-se da prisão devido as articulações feitas pela sua gravadora.
Embora "Ray" apresente uma superioridade técnica em relação ao "Johnny and June", os dois filmes, abusam de clichês e não fogem a pieguice. É difícil assisti-los sem se comover tamanha a emoção ao vê-los largar o vício. No caso de Johnny Cash (interpretado pelo ator Joaquin Phoenix) a comoção é ainda maior, ao ver a família de sua companheira June Carter (interpretada pela atriz Reese Whiterspoon) ajuda-lo a abandonar o vício de anfetaminas. Meus olhos encheram-se de água ao final do filme.
Em “Ray” é impossível não se sentir angustiado com a belíssima interpretação de Jamie Foxx quando este interpreta os momentos de fissuras e alucinações do cantor causadas pela abstinência da heroína, mas enfim, resistir bravamente ao uso da droga.
O que soa diferente é o enfoque dado por cada um dos filmes. O diretor de "Ray", Taylor Hackford, procura enfatizar a carreira de sucesso do músico e as dificuldades encontradas para firmar-se como tal, em vista da deficiência visual. Já, James Mangold em "Johnny and June", conta a parte mais desconhecida e abusa do drama vivido pelo cantor com o vício das drogas se concentrando muito em suafase de recuperação. June aparece como a salvadora de Cash em um lance sentimentalista de que o amor faz de tudo. Talvez, este tenha sido o principal pecado do Mangold, transformar a vida de Cash em uma história de amor.
Um outro fator de destaque são as apresentações das composições de cada cantor. É fácil deixar-se levar pelas canções e em alguns momentos até se emocionar. Destaque para a parte em que “Georgia on my mind” é interpretada em "Ray" e quando Johnny Cash canta para uma platéia de presidiários.
Para quem ainda não se convenceu, vale assisti-los pelas atuações de cada ator. A interpretação de Jamie Foxx é indiscutivelmente impecável. É fácil confundi-lo com o Ray Charles, a começar pela deficiência na perna e os trejeitos do cantor que parecem pertencentes de fato ao ator. É ele ainda quem toca piano nas cenas em que aparece tocando o instrumento. Jamie Foxx levou o Globo de Ouro e o Oscar de melhor ator por sua atuação em 2005.
Em "Johnny and June", Joaquin Phoenix e Reese Whiterspoon estão em seus melhores papéis. Os dois fizeram aulas de canto durante seis meses e Joaquin Phoenix cantou todas as músicas em cena. Ambos levaram o Globo de Ouro deste ano e Reesse Whiterspoon conquistou, também neste ano, o Oscar de melhor atriz.
O resto, só assistindo...

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Caos
Se o trânsito de Belo Horizonte continuar do jeito que está em breve seremos adeptos do rodízio.
Engarrafamento atá na rua Cristina.


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Unhas Roídas
Amanhã tem Argentina e Alemanha. Partida válida para as quartas-de-final. Será que meu palpite se confirmará? Torço para que não.


terça-feira, junho 27, 2006

Um misto de futebol e literatura

Se o jornalista e crítico de cinema do jornal Estado de São Paulo, Luiz Zanin Oricchio, pesquisou sobre todos os filmes relacionados ao futebol, feitos aqui no país onde o esporte reina absoluto, e escreveu o livro “Fome de bola - Cinema e futebol no Brasil” (Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 486 págs). Aproveito a obra do acaso e os 12 dias que ainda restam de copa do mundo para falar dos LIVROS relacionados ao futebol escritos aqui no Brasil.

Antes, explico a obra do acaso acontecida ontem. Ao organizar as estantes na biblioteca (sim, eu trabalho em uma biblioteca), caiu em minhas mãos o livro “Confissões de um torcedor – Quatro copas e uma paixão” (Objetiva, 138 páginas), de Nelson Motta. Como resgatei nesses tempos de copa do mundo uma paixão adormecida por futebol, logo me interessei pelo livro. E sem qualquer hesitação comecei a lê-lo. Interrompi provisoriamente a leitura de “Se um viajante de uma noite de inverno” do escritor italiano Ítalo Calvino e dediquei-me às curiosidades e relatos sobre copas do mundo do jornalista brasileiro.

Escrito no ano de 1998 é um apanhado das memórias de quatro copas, em que Nelson Motta esteve como correspondente dos jornais “O Globo” e “Estado de S.Paulo”. Diferente, de crônicas sobre a atuação dos jogadores ou das seleções participantes, o livro reúne boas histórias de bastidores que não são divulgadas aos torcedores; e sobre a emoção a que está submetido quem é apaixonado por futebol como é o caso do jornalista brasileiro.

O livro fez então com que eu me recordasse de todas as obras que já li e também aquelas que não li, mas conheço, e que retratem o tema futebol. A lista reúne desde Carlos Drummond de Andrade passando por Armando Nogueira até o satírico Luis Fernando Veríssimo. Porém, inverto e começo por “A eterna privação do zagueiro absoluto” de Veríssimo que li e reli na ocasião do meu vestibular, há dois anos.

Com seu humor inconfundível, o jornalista e escritor reuniu as melhores crônicas que escreveu sobre futebol, cinema e literatura. Com maior espaço é claro para aquelas que falam sobre a paixão nacional. Diferente de Nelson Motta, as crônicas de Luis Fernando Veríssimo sempre recheadas de muito humor, não são exclusivas de copas do mundo, mas também sobre partidas entre equipes brasileiras, sobre jogadores e técnicos e de uma época em que se jogava futebol com uma outra bola, a número 5. Além disso, ele relaciona o esporte a temas como casamento e sexo, talvez essas sejam as melhores do livro.

O cronista esportivo Armando Nogueira também reúne uma coleção de livros cujo tema é futebol. Em minha busca, encontrei sete. Dentre eles alguns merecem ser citados, como “Drama e Glória dos Bicampeãos”.

Escrito na Copa do Chile em 1962, o cronista, narra os principais acontecimentos dos bastidores e de campo da conquista do bicampeonato. O livro descreve os dribles de Garrincha e a emoção com drama sofrido por Pelé com a distenção da virilha no jogo contra a Tchecoslováquia e vem com uma ficha completa das partidas, com o local, placar, escalações. O material fotográfico maravilhoso ajuda a completar o livro.

“A copa que ninguém viu e a que não queremos lembrar” foi escrito a seis mãos. Auxiliado por Jô soares e Roberto Muylaert, Armando Nogueira rememora as copas de 54, que ninguém viu. E o drama de 50 que todos querem esquecer. O Brasil perdeu a final para o ainda bom Uruguai no Maracanã.

Por fim, cito meu poeta preferido, Carlos Drummond de Andrade. “Quando é dia de futebol” é uma coletânea de crônicas escritas por Drummond para jornais diários sobre futebol e principalmente sobre as copas do mundo. O livro tem prefácio de Pelé e além das crônicas, traz também poemas do escritor mineiro.

domingo, junho 25, 2006

(Inicio com um dos assuntos que eu mais gosto, mais sei escrever sobre e que todo o mundo, ou boa parte dele comenta)


E deu Argentina... (conforme o esperado)


Confesso que me decepcionei com a exibição da Argentina na partida de ontem, válida pelas oitavas-de-final da copa contra a seleção do México. O jogo foi ruim, a Argentina parecia não saber criar e o seu jogo assemelhou-se com o apresentado pelo Brasil em suas duas primeiras partidas.
Dificuldades para tocar, os jogadores quase não acertavam os passes, recuo excessivo de bolas e pouca criatividade para ultrapassar a barreira criada pelo time mexicano. A culpa talvez fosse do técnico José Pekerman que hesitou muito para realizar as substituições.
No segundo tempo quando colocou em campo o atacante Carlitos Tevez, o volante de chute poderoso, Maxi Rodrigues, e o badalado atacante Messi, o time melhorou. Conclusão: Um belo chute de Rodrigues no ângulo e um golaço da seleção Argentina aos oito minutos do primeiro tempo de prorrogação; e a vaga para as quartas-de-final.
Só para recordar: a Argentina enfrenta a poderosa seleção da Alemanha.

Agora, três pequenas considerações.

A primeira: Maxi Rodrigues foi decisivo para a classificação da Argentina, o golaço que carimbou (a crônica futebolística adora essa palavra) a passagem para a próxima rodada foi obra dele. Além de possuir um chute poderoso e certeiro o volante é habilidoso, toca bem a bola e tem criatividade. Os brasileiros que se gabam de seus chutões deveriam aprender que jogar futebol também faz parte do esquema.

A segunda: Messi joga mesmo um “bolão”. Quase um ano mais novo que eu (completou 19 anos hoje e eu faço 20 daqui a um mês), o atacante do Barcelona tem uma carreira promissora. Campeão do mundial sub-20 ano passado e considerado um dos melhores jogadores da copa, Messi me faz lembrar o meia-atacante brasileiro Kaká.

Kaká tinha 20 anos na copa passada. Assim como o argentino era reserva e só era aproveitado nos finais dos jogos. Mesmo assim Kaká, já exibia um futebol de qualidade o que fez com que fosse vendido ao futebol italiano.

Os dois trabalham bem a bola, são ágeis, possuem uma visão de jogo aguçada para o gol e são também bastante disciplinados. Porém, Messi apresenta habilidades técnicas superiores que as do meia brasileiro o que fizeram com que fosse comparado a Maradona.

A terceira realista, triste (pelo menos para mim, se confirmada) e última consideração: A partida Alemanha versus Argentina válida pelas quartas-de-final definirá um dos finalistas e possivelmente vencedor do mundial 2006. E mais, acredito que esse nome será o da Alemanha.

Apesar das partidas medíocres da primeira fase, mostrando um futebol arroz-com-feijão, a Alemanha é a grande favorita. Depois da partida de ontem contra a Suécia, os anfitriões revelaram um grande futebol. Com dois chutes certeiros, o primeiro de Podolski e o segundo do artilheiro Klose, liquidaram a partida logo no início, aos 12 minutos, marcando dois gols. O placar só não foi maior graças as excelentes defesas do goleiro sueco, Isaksson. A Alemanha conta também com a vantagem de jogar em casa o que garante o apoio da torcida.

Só para terminar. As palavras do técnico alemão após a partida demonstravam muita segurança e convicção. “Não será nossa última partida, estamos apenas esquentando” disse o treinador Juergen Klinsmann conforme o publicado pelo site da FIFA momentos após a partida de ontem.


 
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