quinta-feira, dezembro 21, 2006

Filhos da Esperança

...Será?

O ano de 2027 é caótico, cinza, sombrio e vai de mal a pior. Os sistemas políticos estão desestruturados. A xenofobia parece ser o único sentimento que os indivíduos são capazes de alimentar. O mundo se transforma em um imenso campo de extermínio, que lembra o nazismo, onde imigrantes estrangeiros são liquidados. E como se não bastasse “este” futuro - não muito distante - é marcado também pela incapacidade do homem de dar continuidade a sua espécie. As mulheres
grávidas após começarem a perder suas crianças, não conseguem mais engravidar. O ser humano perde a esperança. O mundo está fadado à extinção.
Dessa forma, pode ser resumido o cenário do filme “Filhos da Esperança” (Children of men) do diretor mexicano Alfonso Cuarón ("E sua mãe também") que se despede hoje, após somente duas semanas em cartaz nas salas de cinema de Belo Horizonte. O filme não entrou sequer na lista dos dez mais vistos.

Adaptação do romance da escritora P. D. James, o filme segue o mesmo caminho de nomes como 1984 ou Fahrenheit 451 (de François Truffaut) extraídos também de títulos literários onde um futuro apocalíptico é descrito. O pessimismo instaurou de forma a fazer com que o homem se desiludisse. O personagem Theo, interpretado pelo ator Clive Owen, é a representação desse indivíduo do futuro que perdeu a esperança. Antigo ativista político, ele era casado com a também revolucionária Julian. Os dois tiveram um filho, mas a criança não suportou a viver naquele ambiente hostil. Theo perde se desilude, perde a esperança. Sua vida passa a ser marcada pela decepção. Porém, ele obrigado a aceitar o pedido de sua ex-mulher –que permanece ativista de um grupo rebelde clandestino -
e deve guiar a jovem Kee, a única mulher grávida até um barco de nome manjado “Tomorrow”.
O amanhã funciona como uma pitada de esperança em meio ao caos. Ele poderá devolver a esperança aos sobreviventes em um mundo marcado pela discriminação e pelo preconceito, pelas guerras, pela ban
alização da morte. Embora o filme tente se esquivar das comparações é impossível não associarmos a moça a figura da Virgem Maria – e isso fica claro quando Theo lhe pergunta quem era o pai da criança e ela responde que ninguém, porém a possível visão é logo desfeita quando ela afirma não saber afinal “foram tantos” – a seu filho a um Messias cujo destino é salvar a humanidade.
“Filhos da Esperança”chega a beirar a perfeição, tanto pela história quanto pela maneira que o diretor escolheu retrata-la. Um ambiente de tensão instaurada graças à opção de manter a câmera quase sempre à mão. A fotografia cinzenta, nublada, apresenta grande força significativa, representando um mundo marcado pela guerra, pelo desespero e pela descrença. Algumas chegam a se assemelhar às imagens de conflitos que recheiam a programação dos noticiários. Um prenúncio de que o mundo caminha para o caos? Não sei. Prefiro acreditar que exista uma solução. E “Filhos da Esperança” brilha nesse sentido. Por mais hostil, melancólico e sombrio que o filme pareça, existe uma chance de mudança. E isso o torna diferente de 1984.

PS: Só sinto pelo pouco espaço dado a Michael Caine e a seu personagem. O ator sempre brilha e seu personagem Jesper talvez seja um dos únicos homens cujo o individualismo e o pessimismo decorrente dele ainda não sucumbiu.

Filhos da Esperança - Dirigido por Alfonso Cuarón
Com Clive Owen, Julianne Moore, Michael Caine,
Claire-Hope Ashitey
Duração 109 min
EUA/Inglaterra

Um comentário:

Unknown disse...

Gostei muito do filme. A camera na mão acompanhando os personagens, vários planos-sequência. Bom roteiro. Narrativa bem estruturada, exceto o clímax e o epílogo que estão num ritmo descompasado em relação ao resto do filme... Não que eu não goste do final, pra mim tanto faz o mocinho morrer desde que seja bem contado, mas acho que a história dá um salto pro final. Pode até não ser culpa do roteirista. Pode ser edição (corte de tempo a pedido do estúdio), mas mesmo assim adorei o filme. Quero ver os outros filmes do Cuaron. Seu post é muito bom. Parabéns ! Não é pseudo-escritora como diz. E concordo, Michael Caine sempre é muito bom em seus papéis e merece mais espaço...

Aloysio Letra

 
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