segunda-feira, novembro 19, 2007

São Paulo S/A

São Paulo, década de 60. O Brasil vive um momento de euforia desenvolvimentista provocado pela vinda de indústrias automobilísticas em meados dos anos 50. Em meio a esse cenário, vive, ou "sobrevive" o jovem Carlos, intepretado pelo ator Walmor Chagas. É esse o ponto de partida de São Paulo S/A (1965), do cineasta paulista Luís Sérgio Person. Carlos é exemplo de um rapaz típico da classe média paulista da década de 60. Trabalha em uma indústria automobílistica, é casado e tem um filho. Seria uma pessoa feliz, se o filme não se tratasse - justamente - dos dramas internos dos protagonista. Ao contrário de um filme que aborde o exterior dos personagens, São Paulo S/A é um filme intimista. L.S Person preferiu criar um filme baseado nos conflitos internos do protagonista e assim fazer uma crítica ao conformismo da classe média paulista da época, que procurava a todo se encaixar aos padrões trazidos com a modernidade recém-chegada ao país a partir do desenvolvimento industrial. Ter uma família sólida, bem constituída, um bom emprego capaz de satisfazer os anseios consumistas firmavam-se como os desejos primordiais do indivíduo. A exemplo daquilo que o filósofo Peter Pál Pelbart em seu texto Vida Nuna, vida besta, uma vida chama de vida besta, na qual o homem está disposto a fazer de tudo para se encaixar em certos padrôes hegemônicos, e passa-se a se controlar, até se enquadrar naquele padrão dito como o certo, Carlos apenas sobrevive, é um simples produto do meio no qual está inserido. Ele nunca amou sua esposa Luciana (Eva Wilma) e se casou com ela por insistência. Ele também vive sufocado pelo trabalho. Enfim, Carlos sobrevive, porque nunca viveu de verdade, não foi corajoso o suficiente para romper com a imposição de uma sociedade tradicional e fazer aquilo que realmente gostaria. Dizem que L.S depois afirmou que Carlos na verdade era homossexual, daí um dos motivos de seu aprisionamento.


Para criar esse drama psicológico, onde a exterioridade parece exercer uma certa pressão no âmago do personagem, o diretor rompe com a ordem cronológica linear, padrão criado por Griffith e que foi absorvido pelo cinema americano, e monta um filme baseado no tempo psicológico do protagonista. Dessa forma, se é a "montagem" que cria a realidade fílmica", como afirmou Lúcia Santaella em Por uma epistemologia das imagens, ao escrever sobre a linguagem própria dos dispositivos tecnológico, no qual o cinema está inserido, o diretor optou por criar uma narrativa que retrasse os conflitos internos de Carlos. Os acontecimentos são mostrados ao espectador de acordo com as lembranças do protagonista e entremeados por seus devaneios e dramas. Ao final, São Paulo S/A acaba fazendo uma crítica à uma sociedade em que os indivíduos abdicam de seus verdadeiros desejos internos, para se mostrar perante aos outros.

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Estrela Torta by Juliana Semedo is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Compartilhamento pela mesma Licença 2.5 Brasil License
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