Ira, xeque-mate, e a desmistificação da guerra
O livro “Xadrez, truco e outras guerras” do escritor e roteirista, José Roberto Torero, é uma daquelas estórias que não empolgam logo de início. Para aqueles acostumados ao excessivo bom humor de suas crônicas semanais, no caderno de esportes do jornal Folha de S.Paulo, e a seus livros, como “Terra Papagalli” ou “Os cabeça-de-bagre também merecem o paraíso” nos quais o humor esconde uma crítica sólida bem construída; a primeira impressão que se tem, é de um livro com estória banal e sem graça.
Lançado pela editora Objetiva, o livro faz parte da coleção “Plenos Pecados” que reuniu sete escritores para criar uma história que tivesse como pano de fundo um dos sete pecados capitais. José Roberto Torero, escolheu, pois, falar sobre a ira, único pecado que Deus teria cometido.
Assim, como mesmo disse o escritor no prefácio da obra, que além de explicar a ira, um dos objetivos do livro seria o de também provoca-la, pode-se dizer, que a princípio, os leitores são vítimas de tal interesse.
Se ele afirmou que os alegres, queixariam-se do pouco humor, o livro parece um pouco enfadonho, e por um instante pode passar à cabeça do interlocutor o abandono da leitura.
Porém, é preciso controlar a má impressão inicial e impedir que a raiva, causada por uma expectativa, à primeira vista não satisfeita, acabe com o ânimo e prossiga-se assim, a leitura. É só a partir da metade da narrativa, que se descobre qual o grande lance da estória.
Para falar sobre o pecado capital, Torero, utilizou como cenário do romance a Guerra do Paraguai. Não que outra guerra interferisse na estória, o fato, é que a escolha de um conflito armado para ilustrar a narrativa foi uma atitude acertada do escritor.
Nada de falar dos feitos do exército ou da estupidez humana que estamos cansados de ver nos filmes que tratam de guerra. Em “Xadrez, truco e outras guerras”, o escritor, revela qual o verdadeiro sentimento que move as lutas armadas. Muito antes de ser construída a partir da honra de um povo como os soberanos fazem acreditar, as guerras, são provocadas por um forte sentimento de ira, que funciona como arma para quem está com a vida em risco.
A ira, por sua vez é alimentada por outros sentimentos, como a vaidade, a cobiça e a inveja. De fato, diferente de suas outras obras, o humor presente nesta obra é bastante sutil. Porém é através dessa sutileza, aliada ao traço crítico e a uma pitada de sarcasmo, que possibilitam ao autor desmistificar os atos heróicos de uma guerra.
Conferindo um caráter lúdico a estória, Torero, comparou o conflito armado a uma partida de xadrez, tanto no plano físico como no plano psicológico. No plano físico, ele aponta as semelhanças existentes entre a disposição das peças no jogo e a atuação dos exércitos no momento do ataque; ambos, aniquilam tropas rivais. Já no plano psicológico, ele prova, que, assim como nos dois jogos, são necessários raciocínio, dissimulação, esperteza e sorte para vencer um confronto armado.
Ele faz com que o leitor quebre aquela idéia inicial, de que a guerra pode ser um ato nobre e romântico, para mostrar que ela não é mais que um mero amaranhado de interesses e lutas pessoais, gestos infames e muitas vezes covardes, e que as paixões que surgem a partir dela não são mais que atitudes mesquinhas e superficiais. Os oficiais do exército, ao contrário de valentes e nobres combatentes, são instrumentos do rei, que só se dispuseram a lutar para satisfazerem sua vaidade e manterem a posição de destaque no reinado.
Ao final, o livro permite uma certa reflexão sobre a condição humana. Cria-se a sensação de que José Roberto Torero, tentou relacionar à guerra a própria vida, onde luta-se tanto para viver e satisfazer seus interesses individuais para, enfim, conquistar à tão sonhada comodidade. Idéia inteligente, mas história mediana. Dá para entender o que é ira, vai...
2 comentários:
q ânimo.
hábito de ler qq coisa que aparece, ainda mais quando se trabalha em uma biblioteca..
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