domingo, janeiro 14, 2007

Diamante de Sangue

O que mais me irrita em filmes como "Diamante de Sangue" - Blood Diamond (em cartaz no país desde o último dia 05) não é a incapacidade de retratar uma outra visão da África, que não seja aquela permeada pelos mesmos velhos clichês. Um continente habitado por miseráveis, marcado pela pobreza e atraso tecnológico, tanto na zona urbana como no campo, no qual a disputa pelos recursos naturais impede o seu desenvolvimento.
Aquilo que me provoca a ira é a apropriação da miséria e da corrupção que infelizmente ainda existem no continente. Essa apropriação cria um falso moralismo ético, marcado por tom de denúncia fajuto. Retratar a miséria e provocar um sentimento de pena no espectador costuma dar certo, e se utilizar um discurso ético para fingir abominar a situação , melhor ainda para a imagem do cineasta, da distribuidora e dos atores que aceitaram filmar. Quem se lembra de Angelina Jolie depois de "Amor sem fronteiras"?
"Diamante de Sangue", dirigido por Edward Zwick, além de repetir a cartilha básic
a citada acima, usou um outro artifício: explorou o drama africano em meio a uma história de aventura. O que gerou seqüências fortes de ação capaz de mexer com o público, aos moldes de "O último Samurai", dirigido também por Zwick. Talvez a qualidade técnica inquestionável e à bela fotografia, sejam na minha opinião, as melhores coisas de todo o filme.
Seguindo os moldes de "Hotel Ruanda", a história de "Diamante de Sangue", também se apropria de um conflito, porém, desta vez, é a guerra civil em Serra Leoa na década de 90. O problema social explorado, é o trabalho escravo e a corrupção utilizado na extração, produção e venda de diamantes. É aí que tem início toda aquela campanha a fim de impedir que os europeus adquiram jóias feitas com a pedra, o que enfraquecia todo o esquema armado durante a sua obtenção. O recurso usado é a história do
mercenário sul-africano Danny Archer que se alia ao pescador Solomon Vandy (Djimon Hounson) a fim de encontrar uma espécie rara de diamante. Juntos os dois passam por diversos momentos de tensão, aquelas cenas que dão à história um ritmo meio alucinante. Leonardo Di Caprio, ops, Danny Archer, é interesseiro, é dotado de um caráter duvidoso e usa da humildade, e simplicidade do pescador a fim de encontrar a pedra que possibilitaria a sua fuga para um local bem distante de toda aquela pobreza. Enquanto Solomon Vandy é estereotipado, o personagem de Di Caprio talvez, seja o único a escapar do clichê. É ele que confere à trama uma certa humanidade, ele não é bom, e nem é mau. Não protege o pescador por ser invadido por uma dose de generosidade, mas sim por puro interesse. E isso acrescido de uma boa chantagem emocional que não me cabe contar agora qual é. Ele se irrita, ameaça o "pobre" homem, mas também tem seus momentos de caridade repentina.
O discurso ético fica a cargo da jornalista Maddy Bowen, interpretada por Jennifer Connely. É mais um nome para a lista dos clichês. Primeiro pela personagem ser uma jornalista o que já dá mostras de ser uma alma indignada com a pobreza. Segundo pelo tom a que ela dirige inicialmente a Archer e pelas espetadas moralistas do tipo: Você se sente bem contribuindo para a exploração do povo africano? ( eu não me recordo do diálogo ao certo, mas se parece com essa frase). Terceiro, ela não só fala como ela ajuda e se envolve com Archer e Vandy a fim de conseguir uma boa matéria capaz de denunciar todo o esquema de extração e comércio de diamantes.
Assim, cada um dos três personagens centrais, encarnam um dos lados do conflito. E que garantem um fim no mínimo óbvio. Ganha um doce quem adivinhar antes de assistir...

PS 1: Fiquem atentos a interpretação de Leonardo Di Caprio, não é nada que justifique sua indicação ao Globo de Ouro, mas é superior a qualquer outra atuação sua. Até mesmo do que "OsInfiltrados". E eu garanto ele só recebeu a indicação graças a cenas finais do filme.

PS 2: Embora "O Jardineiro Fiel" utilize dessas mesmas questões é um filme que eu admiro. E não é somente devido ao diretor Fernado Meireles, mas sim porque antes de ser uma história de denúncia é um filme de cumplicidade e amor. E eu prefiro algo "água com açucar" do que moralista.

"Diamante de Sangue" - Dirigido por Edward Zwick
Com Leonardo Di Caprio, Jennifer Connely, Djimon Hounson, Arnold Vosloo
Duração 138 min
EUA/2006

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