sábado, março 17, 2007

Desfocando ...

Deixemos o cinema de lado - só por hoje - para uma reflexão sobre a Web, outro assunto que provoca em mim bastante interesse, afinal de contas, esse blog está inserido dentro dessa realidade.

Antes de você se tornar mais um dos absorvidos pela onda dos entusiastas - semelhantes a Pierre Levy , quando este tratou o termo Internet e Cibercultura - da Web 2.0, que chegam ao ápice do exagero ao publicar uma matéria com o título "Esqueça tudo o que você sabe de internet, chegou a Web 2.0", os artigos de Alex Hubner, “Web 2.0 é uma revolução? Então, me deixem criticar” (incluído no site especializado, “Webinsider”) e o de João Morgado Fernandes, “Os equívocos da admirável nova web” no Diário de Notícias de Portugal podem ser uma boa pedida de leitura.
A crítica de Alex Hubner desmistifica o fenômeno Web 2.0 que meio mundo alardeia como sendo a revolução da Internet. Embora, eu não partilhe de todas as suas opiniões, porém, concordo quando ele corta um pouco do barato de meio mundo que arrisca um apaixonado palpite sobre o assunto e se empolga com mudanças como essa. Hubner aponta o óbvio, que quase ninguém ainda percebeu. Só os profetas enxergam o óbvio? Todas as ferramentas que determinam o que é a Web 2.0 já existiam antes. Elas são fatores de uma evolução natural que ocorre com qualquer coisa, sobretudo quando se trata de objetos relativos à tecnologia. Por causa disso, ele se mostra contrário à necessidade que se tem de delimitar uma era para uma transformação que se mostra óbvia devido as próprias características da rede. As particularidades da Internet levaria ao que hoje convenciou-se a chamar de Web 2.0 de qualquer forma. “
Em minha opinião, os especialistas da Web 2.0 estão para a internet como os criacionistas estão para a ciência. Por mais óbvio que seja o fato das coisas simplesmente evoluírem, natural e continuamente, prevalecendo o que funciona em detrimento do que não funciona (tal como Darwin teorizou), os especialistas da Web 2.0 entendem que as coisas só existem depois de terem sido criadas, inventadas, nomeadas e, principalmente, propagandeadas.”
A crítica é embasada, recheada de argumentos que revelam realmente o conhecimento de Hubner sobre o assunto.

Já o artigo do português é menos interessante e mais apocalíptico do que o publicado no “Webinsider”. Além de apresentar uma crítica a novas formas de publicação, ele não aceita as mudanças de direitos autorais advindas a partir dela.
O interessante é que ele toca em um ponto que considero crucial: o que os usuários fazem (uso e gratificações) com o conteúdo e com as possibilidades do universo virtual. Segundo ele, a utilização é ainda limitada. Uma opinião da qual eu partilho e afirmo, como disse na apresentação de um trabalho da faculdade no qual tratava o tema. A Web 2.0 possibilita uma democratização dos elementos da cultura, porém, a utilização por parte dos usuários se revela ainda restrita "quase" meramente ao entretenimento.

Tudo bem que Morgado adotou uma postura ferrenha ao criticar o conteúdo virtual e o que as pessoas fazem deles (vocês perceberão se ler), mas o raciocínio é fundamental para chegarmos à conclusão de que quase nada do potencial transformador possibilitado pela Internet foi utilizado.

Que fique claro que eu não sou contra os instrumentos e as possibilidades que a tecnologia proporciona. Muito pelo contrário, eu me encaixo na lista dos que acreditam que essas ferramentas podem modificar muita coisa, sobretudo, a forma de fazer jornalismo, que, diga-se de passagem, está longe de atrair realmente o público. Mas isso já é um outro assunto. Qualquer dia eu posso me esquecer mais uma vez dos focos cinematográficos que pretendem esse blog para me expor melhor.
O que eu não concordo é com posturas românticas, acríticas e tão entusiasmadas que não percebem que tudo se trata de um processo evolutivo normal. Ou será que existe gente que ainda acredita em geração espontânea?


PS 1: A revista que publicou o título esdrúxulo citado no início do post foi a tão falada "Info Exame", da editora Abril.

PS 2: Meu trabalho refere-se ao YouTube (exemplo da chamado Web 2.0) sob a perspectiva daquilo que Walter Benjamin chamou de democratização da produção cultural ao estudar o cinema. O estudo é o foco do brilhante ensaio "A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica".
Nele, o teórico precursor daquilo que se convencionou a chamar de "Escola de Frankfurt" defende que advento do capitalismo e das conseqüentes ferramentas tecnológicas produziram alterações na produção, consumo e divulgação da cultura.

PS 3: Qualquer dia desses, eu prometo que publico o meu trabalho aqui.

Um comentário:

marcelo disse...

já podia ter publicado o trabalho...

 
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