domingo, março 04, 2007

Little Children - Pecado Íntimos

Há muito um filme não me comovia tanto da forma como "Pecados Íntimos" me emocionou.
Isso se deve ao fato das histórias do subúrbio americano provocarem em mim um certo fascínio. A forma como a classe média americana escolheu para viver marcada pelo puritanismo e pelo politicamente correto escondem histórias de indivíduos consumidos pelo tédio e sufocados pelas obrigações rotineiras de uma vida em que o padrão deve ser alcançado a qualquer custo sob a pena da exclusão social.
Algumas pessoas parecem se enquadrar muito bem, outras não conseguem, a maioria finge se enquadrar e consegue isso muito bem e outras, tentam fingir e são infelizes. Em "Pecados Íntimos" todos os exemplos são identificados. Um narrador onisciente (aquele que sabe de tudo) cumpre o papel de narrar e o de identificar para o espectador todos esses tipos sociais. É ele quem conta a história.
A vida de Sarah Peirce, em uma interpretação – mais uma vez – brilhante de Kate Winslet pode ser concebida como exemplo do indivíduo que tenta se adaptar a rotina dos jogas sociais, mas é fracassada. Sarah é uma mulher rica. É casada com o publicitário Richard Peirce (Greg Edelman)
e tem uma filha, Lucy (Sadie Goldstein). Assim como as outras mães do bairro, ela leva regularmente a filha para brincar em um parque perto de sua casa. Porém, é fácil perceber que Sarah é uma mulher infeliz e que o casamento e sua filha não são necessariamente aquilo que mais lhe atraem. A razão para isso é óbvia. Encontra-se neste modo de vida imposto que deve ser seguido a qualquer preço e no qual, Sarah tenta, mas não consegue se encaixar. Sarah parece reprimida pelo egoísmo do marido, que só pensa em trabalho e encontra seus momentos de refúgio no sexo virtual e sufocada pelas obrigações maternais. Por causa disso, ela vive mergulhada em um tédio crônico. Não consegue estabelecer um relacionamento com as outras mães e parece ser um suplício cumprir com as obrigações maternas. Evita as outras mães, isola-se em um banco do parque, enquanto lê e tenta entender a vida das outras mulheres. O comportamento em relação à filha soa muitas vezes alheio, ela é capaz de esquecer de levar o lanche da filha três dias seguidos. A conseqüência disso é ser mal vista perante as outras mulheres que parecem se adaptar bem a condição biológica e sociológica de mãe.
Da mesma forma que Sarah, Brad Adamson, interpretado pelo sem sal Patrick Wilson, é um indivíduo que parece não se adaptar bem a todos os padrões impostos pela sociedade americana. Talvez, fuja daquele que é concebido como o principal valor de uma sociedade marcada pelo protestantismo: o trabalho. Brad é frustrado por estar desempregado, por fracassar há três no exame para entrar na Ordem dos Advogados e por ser sustentado pela mulher, a linda Jennifer Connely (coadjuvante de luxo?). Porém, o sujeito, ao contrário de Sarah tem o espírito paterno arraigado, uma vez que, é transparente a felicidade que lhe traz levar o filho todos os dia no parque, ou no clube público.
A vida dos dois, as “Pequenas Crianças” do filme incapazes de assumir as responsabilidades de uma vida conjugal acaba se cruzando como em um momento de “epifania” (podemos destacar dois ao longo do filme) e são transformadas para sempre. Juntos, os dois começam a viver um tórrido relacionamento extraconjugal capaz de dar aos dois aquilo que as frustrações do casamento impediu que eles conseguissem. Como uma “Madame Bovary” moderna, Sarah experimenta momentos de felicidade que aumentam sua auto-estima que fora esfacelada pelo casamento e pela gravidez.
Objeto, de certa forma, central do filme é o pedófilo Ronald James McGorvey (o indicado ao Oscar
de melhor ator coadjuvante, Jackie Earle Haley). Ele é exemplo de um comportamento desviante. Aquele que não consegue se adequar aos padrões sociais. Ele está presente no filme como forma de lembrar a todos os moradores da integridade física e moral. Todos os moradores do bairro querem impedi-lo do convívio social, uma vez que na condição de um maníaco sexual ele ameaça a ordem. A ameaça é tamanha que uma confusão enorme é causada quando ele utiliza a piscina pública. O americano é um sujeito cruel.
Ele também é o responsável pelo desfecho da história e da recondução a vida dos personagens centrais. É McGorvey que impedirá que Sarah e Brad fujam. É ele o responsável, (coisas do destino) a fazer com que Sarah, enfim se renda às obrigações maternas. Sarah se apavora com o desaparecimento da filha, uma vez que, que a deixara brincando no parque para conversar com o pedófilo que chorava copiosamente. Quando encontra-a, abraça-a e percebe o importância da figura materna. Já Brad, após bater a cabeça devido a uma manobra de skate, perde a conseqüência. Quando ele a recupera, passa também a valorizar o amor pela sua esposa. Com isso, Todd Field (Entre Quatro Paredes), mostra que a vida é capaz de conduzir a certos atos que transformam para sempre a vida das pessoas, até reconduzir a um caminho correto.

Little Children (Pecados Íntimos)
- Dirigido por Todd Field
Com Kate Winslet, Jennifer Connely, Patrick Wilson, Jackie Earle Haley
Duração 130min
EUA/2006

2 comentários:

Anônimo disse...

A vida da maioria dos homens é de classe média. Isso já é um padrão que se soma aos demais, compondo essa teia de regras e esquemas que nem sempre nos adaptamos.

Não vi o filme, mas achei interessante essa forma com que todos lidam com o pedófilo. Ou seja, é fácil apontar os outros quando nós, como pequenas crianças, não observamos nossos próprios defeitos/deslizes/etc.

A Winslet deve estar com a mesma maldição do DiCaprio: mesmo que faça um puta trabalho, o Oscar não vem. "Maldição Titanic"?

Beijo!

Anônimo disse...

Ow, vou até ver o filme, Jú, até porque gosto da Winslet, ela é realment boa. Nunca me chamou mta atenção naum, pra falar a verdade, mas após ler a sua crítica, put's, parece envolvent e 1 tanto polêmico... Será q eu vou chorar no final??? kkkk, Vou ver esta semana e te conto! BJUXXX

 
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