sexta-feira, dezembro 05, 2008

Queime depois de ler

Partilho da mesma opinião da crítica Maria Silva Camargo em relação ao filme Queime depois de ler (2008). Certamente, ele não é o melhor filme do ano, tampouco se destaca como um dos melhores filmes dos irmãos Cohen, que têm em sua filmografia obras como o premiado ao Oscar deste ano "Onde os fracos não tem vez". Entretanto, a comédia, disfarçada de filme de espionagem, se destaca pela maneira que a dupla encontrou para ironizar a estupidez da sociedade americana contemporânea. Com um humor ácido e cortante, Queime depois de ler é sádico, divertido e irônico.
Um disquete contendo memórias de um ex-agente da CIA, demitido por seu alcolismo, cai acidentalmente nas mãos de dois funcionários de uma academia do subúrbio de Washington. Enxergando uma possibilidade de arrumar algum dinheiro, em uma atitude imbecil, os dois decidem oferecê-los á Embaixada Soviética, que não quer nada com o assunto. Por si só essa situação já se destacaria como uma boa piada, se não fosse o fato dos personagens envolvidos na trama serem movidos por interesses consumistas, tão característicos da contemporaneidade.


Linda Litzke, a "funcionária mentora" da chantagem, é uma mulher solitária e vaidosa, que vive procurando encontrar relacionamentos com ajuda da internet. Linda acredita que para arrumar um namorado deverá passar por quatro cirurgias plásticas. Chad Feldheime (interpretado com brilhantismo por Brad Pitt), seu comparsa, é um professor de ginástica que lembra qualquer um daqueles bombadões sem cérebro que se encontram aos montes nas academias pelo mundo afora. Ele tem que malhar, mascar chiclete e ouvir música, de preferência dance, sem parar. Osbourne Cox, o rancoroso ex-agente da CIA, é a caricatura perfeita do americano de hoje. Prepotente, ele não sabe porque está perdendo o terreno e deseja a todo custo encontrar o culpado por isso. Porém, o vício do álcool só o leva ainda mais para baixo. O tom irônico do filme é acentuado ainda mais pela atmosfera de suspense que a dupla de diretores criou para a trama, como se o conteúdo do disquete realmente fosse algo relevante. A montagem nervosa, com cortes rápidos, e a trilha sonora intensa, bastante comuns aos filmes de suspense, cumprem bem esse papel. Entretanto, para o público mediano isso pode ter um efeito contrário. Exemplo disso, foi a mocinha na sessão de ontem exclamar um Oh, é isso! quando, no final do filme, o agente da CIA, interpretado por J.K. Simmons, levantar os braços e e confessar que não compreende o porquê dos americanos não viverem de uma maneira lógica. Genial!


Queime depois de ler
Direção: Joel e Ethan Coen
EUA, 2008

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