segunda-feira, março 09, 2009

o Lutador


A história pode parecer simples e não despertar, à primeira vista, um grande interesse no espectador em potencial. Afinal de contas, é mais uma história vinda dos ringues, na qual um decadente lutador de wrestler não resiste a vontade de lutar, mesmo sabendo que sua vida está em jogo. Entretanto, a forma como o diretor Darren Aronofsky escolheu para conduzir a narrativa cinematográfica de o Lutador, marcada pela pouca interferência na história contada, faz com que o filme seja um dos trabalhos mais bonitos e sensíveis dentre as últimas produções de Hollywood.
Aronofsky seguiu direção oposta a seus trabalhos anteriores, abdicou de algumas marcas estéticas e construiu um filme menos autoral que seus três longas anteriores - Pi, Réquiem por um sonho e o subestimado A fonte da Vida. Em o Lutador, o diretor procura se sobressair menos que o filme, concedendo, assim, total espaço ao personagem principal, o decadente lutador Randy "Carneiro" Robinson.
Todas as estratégias visuais utilizadas ao longo da história conduzem o olhar do espectador, fazendo com que este mergulhe no universo desse personagem, conhecendo suas angústias, seus medos, atitudes. A câmera colada nas costas de Randy no início do filme, algo que nos remete aos filmes dos irmãos Dardenne, os planos fechados em seu rosto marcado, seja pela agressividade das lutas ou pela própria vida do personagem são exemplos que ilustram toda a força que o diretor concedeu a esse personagem, na minha opinião um dos mais marcantes do cinema.
A história que Aronofsky convida o espectador a imergir é uma história baseada de autodestruição. Randy se sente feliz e realizado nos ringues, porém, o inverso ocorre em suas relações pessoais. Parece que todas as tentativas que o conduzem a se transformar em uma pessoa convencionalmente normal são fracassadas, seja na frustrada reaproximação com filha ou na aproximação com a mulher que pretende se envolver. O único lugar que Randy parece se encontrar é nos ringues.
Se a grande sacada do filme é concedida pela pouca interferência do diretor, o mérito deve ser dividido com a relação íntima existente entre ator, Mickey Rourke, e personagem. Uma relação que Ricardo Calil definiu em seu blog recentemente como sendo de simbiose. Tal imersão não seria possível se Rourke não conhecesse bastante o universo em que estava se envolvendo.
o Lutador coloca Darren Aronofsky como um dos diretores mais talentosos e regulares dos últimos tempos.
O único problema do filme é relacionado ao pouco reconhecimento concedido ao filme por parte da crítica e premiações. Sem sombra de dúvidas ele é melhor que qualquer um dos filmes indicados ao Oscar.

Ficha Técnica
o Lutador
Direção: Darren Aronofsky
Duração: 115 min

EUA/2008


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