terça-feira, julho 18, 2006



Match Point-Ponto Final

O cenário não é mais a ilha de Manhattan, mas a cinza cidade de Londres. A personagem principal não é mais interpretada por Diane Keaton ou Mia Farrow, mas, a também loira e sem o menor vestígio da boa atuação das duas anteriores, Scarlett Johansson. O enredo é um crime e castigo moderno, e dessa vez não temos a atuação daquele cara sarcástico com aquela voz tão irritante responsável por provocar a antipatia em muitos.
Para falar do último filme (pelo menos até Scoop terminar de ser filmado) de Woody Allen, "Match Point", eu poderia utilizar esses elementos e cair na mesmice de tudo aquilo que já foi dito sobre ele, e assim, escrever que é diferente de seus outros filmes.
Não que eu discorde totalmente, mas seria superficial demais afirmar que o filme em nada se parece com aquelas sátiras em que o personagem principal é um loser trapalhão. Muito antes de ser só diferente, "Match Point" é um filme maduro, que revela um Woody Allen - em condição de diretor e não de ator -tentando ser diferente.
Não se trata de um filme em que o protagonista é um fracassado por não alcançar sucesso na vida profissional, ou por não se dar bem com as mulheres. E nem é recheado daquelas piadinhas irônicas que dividem o espectador em dois extremos: aqueles que amam ou aqueles que odeiam Allen.
Dessa vez, o protagonista não é um fracassado. Interpretado por Jonathan Rhys-Meyers, Chris Wilton é um professor de tênis cujo destino acaba proporcionando-lhe muita sorte. Como os personagens de seus outros filmes, Chris Wilton almeja conquistar algo na vida. Porém, ao contrário de tentativas frustradas que transformam esses personagens em pessoas inconformadas e providas de uma ironia que as fazem rir de sua própria condição, ele é um sujeito ambicioso capaz de qualquer atitude para conquistar seus desejos.
O enredo, se desenvolve então, a partir dessa ambição, que faz Chris Wilton viver um impasse. Conservar tudo aquilo que o destino ofereceu-lhe ou voltar à sua condição inicial e ficar junto à mulher que ama, inicialmente namorada de um amigo seu. Detalhe notório é que esta não foi a primeira vez em que um de seus personagens sente-se atraído pela mulher de um amigo. Em “Sonhos de um Sedutor” o personagem de Allen, Allan Felix carrega o sentimento de culpa por se apaixonar pela mulher de seu melhor amigo.
O filme
traz uma problemática psicológica comum a seus trabalhos anteriores. Porém, ao contrário de apresentar situações banais do cotidiano, Woody Allen utiliza de temas fortes como a ambição, o adultério e o ciúme, tratados de forma a provocar um reflexão moral. O que acabou transformando-o em um filme sério.

Talvez, outro sinal de maturidade tenha sido o de utilizar o tênis, tão presente em outros filmes seus - como em “Manhattan” no qual, Diane Keaton interpretava uma tenista – como metáfora da sorte. Além do esporte representar a elite, em "Match Point", ele cumpre ainda um papel principal: é através de uma de suas jogadas que
Chris Wilton justifica suas ações. É desse siginificado metafórico que surge o nome do filme.
O humor não aparece, o que acaba provocando uma desconfiança se seria realmente um filme de Woody Allen. Mas o seu caráter irônico continua presente e até de maneira mais refinada, afinal, ele deixa explícita a semelhança do filme com o romance “Crime e Castigo” do escritor russo Fiódor Dostoievski. Em uma das cenas iniciais,
Jonathan Rhys-Meyers aparece lendo o livro e a câmera focaliza o título intencionalmente.
A adaptação de "Crime e Castigo" revela uma característica do diretor: seu interesse pelos clássicos. Um outro filme que eu não me recordo qual, o livro "Educação Sentimental" de Gustave Flaubert é citado pela personagem de Diane Keaton.
Acostumada com seu estilo e fã de seus filmes senti falta dos diálogos inteligentes tão presentes em suas filmagens clássicas da década de 70, mas ainda assim, é a sua melhor filmagem dos últimos dez anos. Conclui-se, portanto, que o filme é igual aos outros na essência e espécie de assunto abordado. Porém, a forma como se deu a abordagem é que foi o verdadeiro diferencial, e responsável por cair na armadilha de qualifica-lo apenas como diferente. A grande sacada de Woody Allen, talvez tenha sido esta, a de reunir todos esses seus elementos característicos de forma mais pensada, sem tiradinhas irônicas com assuntos sérios, e assim, atrair um número maior de espectadores. No final, Match Point deixa a sensação de ser um filme feito pra quem não gostava, gostar.

PS: Reparem no cartaz acima, que a nome de Woody Allen aparece escrito timidamente abaixo dos nomes dos atores. E isso se repete nos outros cartazes e traillers de divulgação do filme. E dizem que foi intencionalmente.


3 comentários:

Anônimo disse...

como assim a Scarlett Johansson é sem talento?

Ju Semedo disse...

ele pode até ser bonita, mas não tem expressão nenhuma.

Alexei Fausto disse...

Eu tenho que rever o filme.

 
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