quarta-feira, dezembro 06, 2006

História do Brasil - Murilo Mendes


...Vestibular, literatura e Murilo Mendes

Eu “quase” (maldito quase, né Luís Fernando Veríssimo?) passei na primeira etapa da UFMG para o curso de Letras, mas fui eliminada em física devido a uma atitude infeliz da minha parte. Da próxima vez eu prometo não chutar em uma letra só, ok dad?
Os 65 pontos não foram suficientes, mesmo precisando apenas de 58. E física não me ajuda em nada. Deve ser por isso que sou – levemente – estabanada.

A História do Brasil contada de "cabeça prá baixo"

O vestibular proporcionou-me, porém, ótimos momentos. Pelo menos naquilo que se refere à literatura. “Quincas Borba” me fez gostar ainda mais de Machado de Assis, “Senhora” (que eu já havia lido anos antes) me fez entender José de Alencar, “Viagem” de Cecília Meireles aumentou a minha sensibilidade (agora ninguém me agüenta mais).
Mas foi Murilo Mendes e sua ironia em contar a “História do Brasil” que mais me seduziu. O desconhecido (a Biblioteca Pública Estadual Luis de Bessa (onde trabalho) não possuía um exemplar sequer da brilhante obra do poeta mineiro até que UFMG
doasse) livro publicado em 1932, mas escrito ainda na década de vinte apresenta características que permitem encaixa-lo na primeira fase do modernismo brasileiro e coloca-lo como um dos maiores expoentes (junto com Macunaíma de Mário de Andrade e Pau Brasil de Oswald de Andrade) da literatura que visava romper com as influências européias da produção literária brasileira.
“História do Brasil” apresenta 60 poemas-piadas que narram de uma forma não convencional acontecimentos que vão desde o “descobrimento” do Brasil até a Revolução de 1930. Murilo Mendes subverte a história de nosso país e nos mostra um lado diferente daquele que os livros de história insistem em contar.
O escritor adota uma postura mais crítica utilizando como instrumento principal o humor tão característico dessa fase a que pertenceu além de uma linguagem desprovida do formalismo simbolista e parnasianista, simples e coloquial, misturada muitas vezes com vícios de outras línguas, principalmente o português.
Há uma grande preocupação, sempre crítica, com a identidade cultural do povo brasileiro. Afinal, em vários poemas, ele recorre ao jogo do bicho, o mais notório talvez seja Homo Brasiliensis (O homem/ é o único animal que joga no bicho. Este poema talvez seja o que ele aborda de forma mais explícita o hábito do
cidadão brasileiro que perdura até hoje.
Murilo Mendes transgride a ponto de utilizar anacronismos, misturar acontecimentos de uma época a outra posterior como se tudo acontecesse a um mesmo tempo. Ele mistura a invasão holandesa ao ciclo do açúcar, a chegada dos imigrantes e das indústrias multinacionais e outras. Além disso, há uma sátira aos medalhões de nossa história, sem qualquer sombra de vergonha ou pudor, desmistificando assim, a postura de grandes heróis como em Soneto do dia 15 em que D. Pedro II que aparece dentro de um banheiro escrevendo uma poesia (referência às qualidades literárias do imperador) “O papel está acabando,/ chego já no último verso,/já lhe cedo meu lugar.” O Brasil às vésperas da Proclamação da República seria o banheiro e o papel, o higiênico? É dessa forma, que “ História do Brasil” provoca naquele que o lê bons momentos de descontração, misturados com reflexão.
Infelizmente, este livro foi rejeitado pelo autor que se negou inseri-lo no livro que reuniu suas principais poesias – “Poesias Completas” publicado em 1956.

Breve Biografia

O poeta mineiro Murilo Mendes, nasceu no dia 13 de maio de 1901 na cidade de Juiz de Fora e morreu no ano de 1975 na cidade de Lisboa, em Portugal. Na década de 20, publicou poemas nas revistas modernistas "Verde" e "Revista da Antropofagia". Publicou seu primeiro livro , Poemas, em 1930, que lhe rendeu no ano seguinte o prêmio "Graça Aranha". Converteu-se, em 1934 ao catolicismo sendo que a religiosidade é um dos temas marcantes de sua produção poética. Morou na Itália, foi professor da Universidade de Pisa e teve seus livros publicados em toda Europa. Foi um dos mais importantes poetas do século XX.

"Poemas" (1930), "Bumba-meu-poeta" (1930), "História do Brasil" (1933), "Tempo e eternidade" - com Jorge de Lima (1935), "A poesia em pânico" (1937), "O Visionário" (1941), "As metamorfoses" (1944), "Mundo enigma" e "O discípulo de Emaús" (1945), "Poesia liberdade" (1947), "Janela do caos" - França (1949), "Contemplação de Ouro Preto" (1954) são suas principais obras.

Um comentário:

Anônimo disse...

Olás!!!
Enfim, sempre passo por aqui e nunca deixo comentários hehe!
Continua escrevendo muito bem, como uma frequentadora forte deste blog(desde o inicio), posso falar que está cada dia melhor, e que você ainda vai longe!!!
Prefiro você escrevendo sobre filmes, mais gosto de como você fala sobre os livros que lê, falando nisso...anda lendo o que?!
Qualquer dia vou lá te visitar na biblioteca, ah...manda um oi pro Marcelo!!!

Bjokas pra você e inté mais =B

 
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