segunda-feira, janeiro 22, 2007

Babel

“Babel”, último filme da intitulada “Trilogia da Morte” (os outros dois são “Amores Perros” de 2000 e “21 Gramas” de 2004) do diretor mexicano Alejandro González Iñarritu, encontra sua síntese no diálogo realizado trinta minutos antes do filme de quase duas horas e meia terminar.
Sob um calor hostil em um imenso deserto próximo a fronteira entre o México e os Estados Unidos, uma criança americana, indaga a uma mulher (Adriana Barraza - detalhe para a sua interpretação), mexicana, imigrante ilegal nos EUA o que eles haviam feito de errado. Ela, responde que nada, mas que “eles” (policiais) não acreditavam.


A mulher havia levado consigo as duas crianças americanas das quais era pajem para uma festa de casamento no México. As duas crianças eram filhas de um casal americano que passava férias no Marrocos, a fim de esquecer a morte do filho mais novo. A mulher leva um tiro disparado acidentalmente por duas crianças ingênuas que caçavam chacais. A arma foi dada por um japonês como retribuição a um marroquino que havia ajudado-o a caçar. E vendida, ao pai das duas crianças. Aquilo que não passava de um acidente, é tido como mais um ato terrorista. E o círculo vicioso se alimenta. E o entendimento entre os povos parece mais uma vez inviável.
O entrelaçamento das cinco histórias, representada pelas etnias existentes, simboliza o mundo globalizado, nada mais é separável ou individual, tudo está ligado. Porém, o suposto equívoco simboliza que, mesmo unidos pelo fenômeno globalização os povos se separam em decorrência das barreiras impostas pelas diferenças culturais, lingüísticas (inglês, japonês, espanhol, berbere e linguagem dos sinais) e até mesmo pessoais. O que representa uma babel, como na história bíblica da construção da imensa torre que tinha o objetivo de alcançar o céu. A torre jamais fora construída, uma vez que, Deus, irritado fez com que os construtores falassem em línguas diferentes o que impedia a finalização da obra.
Iñarritu trouxe a metáfora da mitologia bíblica, para os tempos atuais na tentativa de mostrar o sonho da união, mas que se esfacela devido à incompreensão existente entre os mesmos que lutam pela globalização. E ele fez isso tão bem, que o filme é recheado de detalhes propositais que revelam as peculiaridades de cada uma das culturas envolvidas na trama. Seja, no hábito dos orientais de retirar os sapatos antes de entrar em casa, no costume de se caçar chacais ou no europeu não suportar o calor do deserto. A tradição latina é evocada em uma festa de casamento regrada a muita comida, dança, sensualidade e a uma certa deselegância embalada por uma música nostálgica em uma das cenas mais bonitas de “Babel”. É fácil entender o clima nostálgico se lembrarmos que Iñarritu é mexicano.
Ao mostrar essa falta de comunicação entre os povos a fim de criticar a globalização, “Babel”, evoca uma visão pessimista e fatalista do mundo de que o sonho conciliação é impossível. Isso fica evidente com as notícias dadas pela tv americana de que o tiro disparado contra o ônibus de turistas era um ato terrorista. Infelizmente isso contribui para aumentar o preconceito e alimentar o círculo vicioso. A tal americana (Cate Blanchett) que apresentava atitudes preconceituosas continuará nutrindo os mesmos sentimentos e manterá a mesma opinião perante as pessoas do oriente médio.
Ao final, “Babel” é um filme denso, que provoca no espectador um clima de tensão traduzindo assim da melhor forma a relação entra as diferentes etnias. É também o projeto de Iñarritu que melhor se casa com a utilização de uma narrativa não-linear.

Babel - Dirigido por Alejandro González Iñarritu
Com Brad Pitt, Gael Garcia Bernal, Cate Blanchett, Adriana Barraza
Duração 142 min
EUA/2006

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